"Pantera Negra 2" é histórico: filme honra memória de Chadwick Boseman e emociona
Publicado em 8 de novembro de 2022 às 17:26
Por João Maturana
Esta semana estreia "Pantera Negra: Wakanda Para Sempre" nos cinemas. Mais do que dar continuidade às jornadas dos personagens que conhecemos no primeiro título da franquia, o longa tem a missão de honrar o legado de Chadwick Boseman, devido à partida de um dos mais importantes nomes da cultura pop recente. O Purebreak já conferiu e pode dizer com propriedade: a continuação brilha ao colocar a memória do nosso eterno T'Challa como grande protagonista. Leia a crítica!
Crítica "Pantera Negra: Wakanda Para Sempre": memória de T'Challa é a grande protagonista no filme mais profundo da Marvel Studios Crítica "Pantera Negra: Wakanda Para Sempre": memória de T'Challa é a grande protagonista no filme mais profundo da Marvel Studios© Divulgação, Marvel Studios
"Pantera Negra: Wakanda Para Sempre" tinha a missão de honrar o legado de Chadwick Boseman (T'Challa) e faz isso lindamente
Shuri é a protagonista de "Pantera Negra: Wakanda Para Sempre", mesmo que Letitia Wright tenha dado declarações problemáticas sobre vacinas durante a pandemia de COVID-19
"Pantera Negra 2": contraste entre Shuri e Letitia Wright dá sensação de crítica social ou hipocrisia para a escolha dela como substituta de T'Challa (Chadwick Boseman)
"Pantera Negra 2" fala sobre decolonialidade graças a Namor (Tenoch Huerta) e reino Talocan
"Pantera Negra: Wakanda Para Sempre" reforça o lugar da franquia na história
"Pantera Negra 2": protagonistas femininas, decolonialidade e legado de Chadwick Boseman são pontos fundamentais da trama
Em "Pantera Negra 2", histórico de Wakanda e Talocan faz os dois povos terem um passado em comum
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"Pantera Negra" foi extremamente marcante ao estrear em 2018 e imediatamente garantir o seu lugar na história da cultura pop. Revolucionário em todos os sentidos, o título da Marvel Studios que apresenta o mais importante super-herói negro dos últimos tempos foi extremamente aclamado e fez bastante sucesso entre o público. Por esse motivo, "Wakanda Para Sempre" tinha duas missões: entregar uma trama nesse mesmo nível e honrar o legado de Chadwick Boseman, nosso eterno T'Challa, que nos deixou em 2020.

Podemos dizer com folga que pelo menos um dos objetivos foi concluído com sucesso: a memória de Chadwick e T'Challa - e neste momento une-se ator e personagem numa só potência -, é a grande protagonista da sequência. Seja na forma como movimenta a trama, no simbolismo emocional com que faz os personagens ganharem a cena ou na mensagem que quer passar. Todo o filme é envolto por essa perda que se completa no reconhecimento da sua presença para além de um único plano de vida.

E nesse momento não há Shuri (Letitia Wright), Rainha Ramona (Angela Bassett), Nakia (Lupita Nyong'o), Okoye (Darai Gurira), Riri Williams (Dominique Thorne) e nem Namor (Tenoch Huerta) capazes de ter mais destaque do que a verdadeira estrela da franquia. O que não quer dizer que "Wakanda Para Sempre" não tente indicar um herdeiro para o trono do falecido rei.

O novo Pantera Negra merece substituir T'Challa?

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Desde que foi anunciada a morte de Chadwick Boseman, fãs da cultura pop se perguntam sobre quem deverá ocupar seu lugar como Pantera Negra. A continuação do título vencedor de três prêmios no Oscar não se preocupa tanto com surpresas, o foco maior é em entregar uma história coerente - e nesse quesito se coloca bem a par de tudo que a Marvel se propôs a produzir recentemente.

Shuri é a grande protagonista do novo filme e, por mais que faça sentido, devido à força e potencial da personagem, há um gosto agridoce em ver o tempo todo na tela uma atriz que nunca chegou a se retratar por falas extremamente problemáticas relacionadas às vacinas durante a pandemia do Coronavírus - o que, inclusive, atrasou as gravações de "Pantera Negra 2".

Ver esse pensamento em contraste com a mente mais brilhante do Universo Cinematográfico da Marvel (MCU) chama a atenção até daquelus que não estão tão por dentro de tudo que acontece nos bastidores da franquia. E de forma crítica - ou hipócrita - é curioso ver que, na história, o irmão da cientista falece devido ao agravamento de uma doença a qual Shuri acredita fielmente que teria as habilidades e o conhecimento para combater.

A sensação de impotência define toda a trajetória da personagem principal. Mas vale refletir se Letitia mesma não se questionou sobre quantas pessoas podem ter morrido pelo impacto que sua negligência em seguir os valores da ciência pode ter tido.

"Pantera Negra 2" é um mergulho épico na decolonialidade

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Mantendo o tom crítico a respeito de temáticas relacionadas à minorias raciais, assim como o primeiro título da franquia, "Pantera Negra 2" propõe muitas reflexões importantes. Vale dizer que ver um dos mais aguardados filmes de super-herói do ano ser estrelado por mulheres negras já é um - merecido - destaque à parte e a parceria entre elas e o poder feminino engrandece lindamente a trama.

Por outro lado, todo o enredo que ronda Namor e o reino de Talocan diz muito sobre a colonização espanhola, opressão de povos originários e lutas de resistência para a sobrevivência de uma minoria. Nesse sentido, tal povo se assemelha bastante aos cidadãos de Wakanda, não só pela abundância de vibranium e pelo segredo da sua civilização, como também pela história de dor e força que os une.

A mitologia a respeito do povo submerso é construída de forma misteriosa, a ponto de passarmos todo o tempo a espera de vermos o potencial máximo dessa nação. Acaba que, por mais que personagens queridos sintam na pele os horrores da guerra, todo o potencial dos antagonistas é, de certa forma, minimizado comparado à sua evidente grandiosidade.

Além disso, o risco de tocar na temática de relação de opressor e oprimido faz lembrar bastante o arco de Killmonger (Michael B. Jordan) em "Pantera Negra" e a solução é justamente recorrer ao mesmo para entendermos o que difere os motivos de cada um dos conflitos.

O poder da memória supera a dor da perda em "Pantera Negra 2"

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Por mais que se valha de um roteiro simples, com alguns deslizes nas ideias que propõe, o que fica de lição com "Wakanda Para Sempre" é um legado que se estende para além da Marvel e das longas 2h41min do filme. "Pantera Negra 2" vem para reforçar o seu lugar na história. Se no primeiro entendemos mais sobre representatividade e opressão, agora experimentamos a dor da perda - um tema bem mais universal. Só que ele é revisitado por uma visão que contraria o eurocentrismo. A morte é celebrada nos ritos wakandianos e o que fica é a felicidade de ter algo pelo que se lembrar.

A morte pode preceder Reis, poder ou tecnologia, mas a memória e o legado são eternos. E se um dia for realmente possível dar continuidade à saga da Marvel sem Chadwick, certamente o mesmo não poderá ser dito sobre apagar das nossas memórias a revolução cultural que ele protagonizou, cujas sementes seguem dando frutos tão poderosos e mágicos quanto a Erva Coração de Wakanda.

"Pantera Negra: Wakanda Para Sempre" estreia em 10 de novembro nos cinemas.

Palavras-chave
Filmes e Séries Filme Crítica Cinema Super-herói